A Telessaúde tem vindo a ganhar importância no contexto internacional, sendo atualmente considerada um elemento com potencial para transformar a prestação de cuidados de saúde de milhões de pessoas em todo o mundo (Dorsey e Topol, 2016). Considera-se que a Telessaúde pode contribuir para uma cobertura universal de cuidados de saúde através da promoção do acesso aos utentes a serviços de saúde de qualidade e custo-efetivos em qualquer local. Esta é particularmente relevante em áreas remotas, em grupos vulneráveis e em populações envelhecidas (WHO, 2016).A Agency for Healthcare Research and Quality (2016) afirma a efetividade da telessaúde para monitorização de utentes com doenças crónicas, para comunicação e aconselhamento nestas situações ou ainda para psicoterapia. No entanto, o seu potencial ainda não está completamente explorado, existindo evidência de utilidade para a Saúde Materna e Infantil, para a área da triagem e urgência. Esta forma de prestação de cuidados acompanha a progressiva globalização da Saúde, permitindo comunicar em qualquer local e contribuir para melhores cuidados em qualquer fase do ciclo de vida das pessoas.

A Literacia em Saúde emerge da necessidade de cada indivíduo ter parte ativa na construção da sua Saúde, através de tomadas de decisão informadas e acertadas sobre Saúde.
No contexto internacional a importância da Literacia em Saúde tem sido evidenciada em estudos que revelam que a iliteracia se traduz numa baixa utilização de serviços de Saúde preventivos (Scott et al., 2002) e um aumento da mortalidade em pessoas idosas (Baker et al., 2007).
Marcus (2006) classificou a iliteracia como a epidemia silenciosa que continua a condicionar a melhoria da Saúde das populações.
Vários estudos têm apresentado a telessaúde como veículo para a promoção da saúde, da literacia e do empowerment para a saúde. White, Krousel-Wood e Mather (2001) efetuam uma análise à utilização da telessaúde para ensino de profissionais de saúde que estão limitados por barreiras geográficas, abordando também o potencial para uma abordagem integrada na realização de consultas, ensino ao utente, monitorização, seguimento e suporte.
No âmbito da promoção da saúde, Nakajma et al. (2007) realizaram um estudo no qual compararam um programa de promoção da Saúde comunitário baseado em terapia de grupo, com e sem apoio de teleconsultas regulares, revelando um melhor controlo do colesterol naquelas que realizaram teleconsultas.
Na área da prevenção e controlo da doença crónica, Banbury et al. (2014, 2016) apresentam o Telehealth Literacy Project, realizado na Austrália. Neste projeto, utiliza-se um programa de educação para a saúde para idosos com multimorbilidade, através de tele-educação. Outro projeto utiliza a telemonitorização e a tele-educação para crianças com Diabetes, revelando que a conjugação destas práticas pode permitir a manutenção de um melhor estado de saúde e reduzir as idas à urgência e as hospitalizações (Chorianopoulou, Lialiou e Aggelos, 2015).
Conforme sugerem os artigos citados, a telessaúde pode ser um instrumento para apoiar os cuidados às pessoas com doenças crónicas que apresentam a maior carga de doença, potenciando a melhoria do acesso a cuidados de saúde, mas também uma redução dos custos (Dorsey e Topol, 2016).
A sua utilização como instrumento promotor da autogestão da doença crónica tem sido evidenciada. A possibilidade de uma teleconsulta em tempo real ou de telemonitorização, no domicílio, permite um conforto e confiança que apoia o empoderamento da pessoa e promove a sua autonomia na gestão da doença (Bond, 2014).
Considerando a sua importância é essencial garantir o desenvolvimento de planos de Saúde cada vez mais centrados nos cidadãos. A centragem no cidadão implica cuidados de proximidade e a dirigidos às suas necessidades. A telessaúde pode ser um eixo que permita cumprir este desígnio (Dorsey e Topol, 2016).

Globalização da Saúde e a Telessaúde

A telessaúde tem permitindo concretizar a visão de uma Saúde Global e centrada no utente, na medida em que permite que qualquer pessoa, em qualquer local, com uma ligação a internet possa realizar uma consulta com o seu médico de referência, contribuindo para uma telessaúde personalizada (Dinesen et al., 2016). Estas consultas podem-se estender a outros especialistas, nomeadamente no contexto internacional e que poderão apoiar em tomadas de decisão para o tratamento das doenças.
O turismo de Saúde apoia-se frequentemente na telessaúde, dado que quando o utente é intervencionado e regressa para casa, mantém-se por esta via o contacto para seguimento pelo profissional de saúde responsável pelo tratamento (Pocock e Phua, 2011).
Cartwright (2000) aponta a telemedicina, uma das áreas da telessaúde, como um meio de construir novas geografias para uma gestão da Saúde das populações, com novas formas de organização. A autora refere que a telemedicina é uma resposta às forças da globalização, permitindo em muitas situações controlar crises de saúde a nível global através da disponibilização de serviços de saúde em locais remotos, em situações de necessidade especial, como surtos de doenças ou de guerra.

 

Telessaúde para Promoção da Saúde, Prevenção e Tratamento da Doença

A telessaúde apresenta múltiplas aplicações. As suas iniciativas vão para além de teleconsultas de especialistas com os cidadãos ou médicos de família. Atualmente serve como apoio na saúde escolar, ocupacional, como resposta de primeira linha em situações de urgência ou até para prestação de serviços de saúde em casa dos cidadãos (Krupinski et al., 2011). A telessaúde pode ser um motor para uma melhor gestão da Saúde das populações contribuindo para as três áreas de interesse: Promoção da Saúde, Prevenção e Tratamento da Doença. No âmbito da telessaúde a realização de tele-educação, telemonitorização ou teleconsultas são formas úteis de promover a saúde. Estas são complementares, permitindo apoiar na ativação dos utentes para a promoção da saúde. A adoção de uma alimentação saudável e da realização de atividade física regular são exemplos de fatores comportamentais que podem ser moldados no sentido de prevenir a doença e que podem ser trabalhados através da telessaúde. Panagioti e colaboradores (2014) referem que estratégias de suporte à autogestão da doença crónica permitem melhorar resultados em saúde, sendo que destas estratégias de gestão da doença, grande parte assenta na utilização de instrumentos de telessaúde para a sua prossecução. Alguns estudos têm sido publicados acerca da telessaúde para controlo de peso (Kuzmar e Cort, 2015), como medida de apoio à cessação tabágica (Battaglia et al., 2013; Grannis, 2001), como medida de controlo da Tensão Arterial (Cottrell et al., 2015; Shaw et al., 2013). Qualquer destes fatores de risco intermédios são passíveis de ser controlados com ação a nível comportamental e terapêutica.